Opinião

Rádio de confiança, mas com reduzidos “glóbulos” humanos

Por que razão continuamos a confiar numa coisa para a qual já foi lida várias vezes uma sentença de morte? A questão impõem-se e torna-se interessante esmiuçar um pouco uma possível resposta, mas, antes de mais pormenores, importante que se apresente a defunta, que teima, por muito que lhe façam o funeral, em fugir da cova: a “amada rádio”, como lhe chamou (e chama) tantas vezes o enorme Fernando Alves, um confessado e irremediado apaixonado pela eterna “condenada”.

É dia mundial da rádio, sempre a 13 de fevereiro, qual superstição qual quê, e não só a “caixinha mágica” está viva e recomenda-se, como segue sendo considerada, ano após ano, como o meio de comunicação social em que o público mais confia. E confiança (em nós), meu caros, é o pilar básico para o sucesso de qualquer um ou de qualquer coisa. Por isso, enquanto assim for, à rádio podem levar-lhe flores, chorar por ela, clamar adeus de partida, que ela fica. Viva. Está viva sim e, assim sendo, “viva a rádio”! Mas está doente. Mascara-se de uma energia externa estranha, quem a ouve não sente o que vai por dentro. A cara da rádio transparece um sorriso que não se sente na energia do sangue que agora lhe corre nas veias.

Deixemos que a rádio entre no consultório do ouvinte, para que lhe comecemos a traçar o diagnóstico.

Ora então, senhora rádio, olhando aqui para os seus valores, sinto que anda com os recursos financeiros da publicidade muito em baixo. Aliás, deixe-me que lhe diga, de ano para ano, a cada check-up que passa, estão mais baixos. Permita-me que a possa auscultar: só ouço música! De vez em quando, ainda que baixinho, lá vou ouvindo um pouco mais do que isso, parece-me que é informação, mas em jeito acelerado. Já está. Sofre de flashes de informação. É como se avançasse com uma notícia e, de repente, sem que nos apercebamos já está em outra, e outra, e outra mais. E acabou. Foi rápido. Agora que ausculto melhor, tenho a certeza: sofre de flashes de informação.

Não a podemos deixar sair do consultório sem que antes voltemos às suas análises. Vê-se perfeitamente que anda a abusar do consumo das televisões, e não são apenas as televisões comuns, consome demasiado televisões de clubes, de partidos políticos, de instituições. E há aqui um ligeirinho abuso de comunicados de imprensa e de agências noticiosas. Afaste-se disso, corte por completo, que isso dá-lhe cabo da saúde. Evite ao máximo as gravações por telefone, dão-lhe conta da qualidade do som. Evite mesmo. E cá vai a solução, senhora rádio, para que isto tudo melhore: saia à rua, saia muito mais à rua, vá dar uns passeios e faça mais reportagem. A reportagem faz-lhe falta e faz-lhe bem à saúde. Ouse! Ouça pessoas, veja o que está a acontecer à sua volta e traga mundo para dentro de si. Saímos todos a ganhar quando a senhora rádio está no melhor de si.

Estou quase a terminar o seu diagnóstico, tenha calma, mas há aqui outro valor a definhar. É grave. É talvez, de todos, o valor mais importante. Os seus glóbulos humanos estão claramente abaixo dos mínimos exigidos para um dia a dia decente. Nem sei como é que ainda é capaz de se mexer, de trabalhar, de nos contar o que se passa com o bairro, a comunidade, o país e o mundo. Há aqui mesmo secções que, senhora rádio, não têm qualquer glóbulo humano: secaram. Assim não vamos lá. Sem glóbulos humanos fica difícil. Está nas suas mãos.

Ainda que o diagnóstico não seja propriamente favorável, a temática do Dia Mundial da Rádio deste ano encaixa-lhe que nem uma luva. Rádio e Confiança. Não têm restado dúvidas. Ano, após ano, a rádio é considerada como o meio de comunicação social em que os cidadãos mais confiam.

Sabemos que nem tudo são rosas, que todos os dias, as rádios e sobretudo as rádios locais se debatem com quebras significativas de publicidade, que colocam em causa a sua sobrevivência, levando a que algumas se limitem a serem pouco mais do que simples repetidores de música ou de emissões em cadeia. Mas, as que resistem, e é para essas que nos dirigimos, continuam um trabalho de louvar, próximas das suas comunidades, com jornalismo de referência e profissional. Sim, bem sabemos que este trabalho profissional e de confiança é feito com poucos recursos humanos. Aliás, cada vez menos, mas a luta de quem o faz no dia a dia continua a sair vencedora. Ainda que com poucos, nas rádios locais e mesmo nas rádios nacionais, com equipas a trabalhar na “pele”, com o mínimo de jornalistas, a rádio continua a ser o meio mais democrático, o que está acessível à compreensão de qualquer um, a que menos se deixa levar pelo sensacionalismo e pela ditadura de que o que interessa é chegar depressa e primeiro... a rádio mantém-se à margem do mais atual lema que muito mata o jornalismo: a rádio nem sempre é a primeira a chegar, mas quando chega, chega melhor. E isso, reflete-se na confiança depositada pelos ouvintes.

Embora lhe tenham vaticinado a morte algumas vezes, a rádio está longe de ouvir o “Paz à sua alma”...

Últimas Notícias

Celeirós do Douro prepara-se para mais uma edição da Lagarada Tradicional

18/09/2025

Mostra do desporto regressa a Vila real

18/09/2025

Quinta das Carvalhas lança duas coleções de vinhos do Porto antigos

18/09/2025

Docente da UTAD é o primeiro português a presidir à Rede Global de Geoparques da UNESCO

18/09/2025

Feira da Maçã 2025: licitação de espaços de restauração e bebidas

18/09/2025

Programa "Diabetes em Movimento" recomeça em outubro

18/09/2025

Câmara de Lamego reforça apoio escolar aos alunos do 1º Ciclo

18/09/2025

Viticultores do Douro podem pedir apoio à uva para destilar até 25 de setembro

16/09/2025