O impacto da pandemia de coronavírus é sentido um pouco por toda a economia, numa crise diferente da última que se viveu. Mas os efeitos não são iguais em todas áreas de atividade, afetando particularmente a restauração, que poderá ver quedas entre 32% e 54% no Valor Acrescentado Bruto (VAB) do setor em 2020.

As estimativas são da consultora PwC, na primeira edição de um estudo sobre a visão setorial dos impactos do Covid-19.
A atividade do setor tem sido prejudicada pelas medidas de segurança implementadas e pelo risco inerente da deslocação a espaços fechados. A quebra no VAB do setor poderá variar entre -52% e -32%, de acordo com as projeções da consultora, que sublinha que as restrições impostas “irão condicionar a rentabilidade das empresas por um período que se prevê bastante longo”.
Tal como acontece um pouco por todo o país, também na região duriense este impacto é sentido.
Na cidade de Peso da Régua, o restaurante Manuel da Aninhas é um dos mais antigos ainda em atividade. Mariana Alves, uma das caras do restaurante, não esconde o descontentamento com as medidas que foram tomadas para o setor.
“Desde que as medidas foram implementadas na restauração foi fatal, praticamente de um dia para o outro o negócio baixou para menos de metade, basicamente.

Para nós, como negócio, esta situação é muito injusta visto que até já há algumas restrições, como por exemplo só podermos servir agregados familiares ou ter apenas 6 pessoas por mesa, etc. Depois olhar para os supermercados e poder estar uma família inteira lá dentro a fazer compras o dia tudo é tremendamente injusto.
Neste momento, desde meados de outubro, com as novas medidas, é drástico. Olhamos para a conta da empresa e nota-se. Os custos fixos mantém-se, não despedimos ninguém, temos que pagar água, luz, gás, etc, portanto é um ano muito mau.
Apesar de tudo, eu acho que se calhar na nossa casa não se nota tanto como naqueles restaurantes que têm o seu negócio muito virado para o turismo, nós temos os diários que nos têm ajudado a sobreviver apesar de haver uma quebra porque com as pessoas em teletrabalho e metade dos lugares na sala já é um handicap”.
Apesar da situação atual a empresária afirma que o verão serviu para compensar algumas quebras apesar de este ano ter sido notória uma mudança no tipo de turista que servia no restaurante.
“O verão foi bom, muito bom. Em agosto e setembro o turismo português veio com muito dinheiro ao contrário do turismo estrangeiro. Foi uma evidência que constatamos, há dois anos faturamos muito mas trabalhamos muito mais, este ano com os portugueses foi diferente, é um cliente que come bem (porque nós gostamos de comer e beber) e foi ótimo, acabando por compensar de alguma fora os meses que tivemos encerrados, não na totalidade obviamente”.
Preocupante é a situação atual com as restrições impostas e a possibilidade de ao fim de semana apenas poderem trabalhar em regime de take away ou entrega em casa, algo que Mariana Alves afirma não se coadunar com o esquema de trabalho que têm montado.
“Nós optamos por fechar ao sábado porque nesse dia o nosso serviço é à carta e não faz sentido nesta fase. Somos um restaurante de comida típica e a possibilidade de entrega ao domicílio não faz, para nós, grande sentido mas é uma hipótese que temos ponderado.
O município de Matosinhos, por exemplo, criou um sistema próprio de entregas de comida ao domicílio mas essa é uma situação que depende de município para município e aqui, por exemplo, não sei ela seria viável.
Da nossa parte é quase impossível porque temos já a equipa muito reduzida e não estamos preparados para essa situação, eu não gosto de comer a comida fria quando chego a casa e isso poderia acontecer com as entregas que fizéssemos. Estamos a ponderar isso mas temos que analisar como fazer porque estar a fazer um mau serviço também não é solução para nós”.
Também na cidade de Lamego a restauração tem sofrido com as medidas atualmente em vigor. António Almeida é proprietário do restaurante Sabores d’El Rei que abriu portas a 20 de agosto, já em plena pandemia.
“Abri o restaurante em agosto porque já tinha tudo planeado nesse sentido, já tinha adquirido o espaço e tinha já contratualizado com todos os serviços tendo em conta esse plano e decidi avançar para manter o que tinha acertado com toda a gente. Também porque tinha esperança que esta situação fosse melhorar, nunca pensei, por exemplo, que o mês de setembro fosse tão mau.
Têm sido tempos bastante difíceis, há cerca de um mês ainda se iam vendo alguns turistas mas daí para cá já tenho tido noites em que não faturo sequer 1 euro”.
António Almeida esteve emigrado na Suíça durante mais de três décadas, regressou a Portugal e investiu as suas poupanças neste negócio, para os quais tinha muitos planos.
“Tenho uma filha com 10 anos e queria que ela estudasse cá. Em 31 anos emigrado na Suíça sempre trabalhei na restauração. Cheguei a ter um negócio meu com mais dois sócios mas sempre foi este o meu ramo.
Investi aqui também na restauração porque é o negócio que gosto, é aquele em que me sinto bem. Tinha muitas ideias para o negócio como servir pratos mais diferenciados e terminados junto à mesa do cliente mas neste momento não posso coloca-las em prática, com as medidas que existem fica difícil. Estamos a trabalhar com uma carta limitada, muito pequena.
Há algum desânimo mesmo sendo muito positivo como normalmente sou. Uma pessoa investe aqui muito dinheiro e depois resta manter a esperança que isto vai mudar e que as pessoas vão regressar aos restaurantes mas não é o caso”.
O empresário afirma que está a fazer refeições em sistema de take away mas não tem capacidade para fazer entregas ao domicílio. Apesar de alguma esperança António Almeida receia que a época de Natal esteja perdida.
“Estamos a servir refeições para Take-away mas não estou preparado para fazer entregas ao domicílio apesar de ponderar essa hipótese, dependendo do que o futuro nos poderá trazer.
Temo que não nos deixem trabalhar agora na época de Natal que é sempre uma boa época de trabalho porque há os jantares de empresa e de grupos de amigos e famílias. Continuo a ter esperança e vou lutar com todas as minhas forças para que este seja um negócio de sucesso”.