Entrevista

“O projeto que eu e a minha equipa apresentamos em 2013, em termos de conceção, está feito”

A cumprir o seu último mandato à frente da autarquia de Santa Marta de Penaguião, Luís Machado assume que, formalmente, o projeto que tinha para o concelho em 2013 está consolidado. Reeleito sempre com largas vantagens para os seus opositores, o autarca acredita que a maioria dos penaguienses está satisfeito com o trabalho realizado.

Ser autarca implica uma dedicação ao cargo que vai muito além das habituais 8 horas de trabalho. Quem fica a perder com esta dedicação?

Aquilo que todos dizemos, a família. A família perde em tempo, mas está próxima de nós nos tempos difíceis o que ajuda à coesão familiar.

Perde essencialmente nas críticas injustas. Hoje é muito fácil criticar, o mérito das críticas não é o desejável e quando atacam o autarca ou a pessoa, quem mais sofre é sempre a família.

Lida bem com a crítica?

O tipo de crítica sem mérito, que roça a ofensa, que é desleal, é de lamentar, mas hoje vive-se muito disso. Quem mais sofre são os que estão mais perto de nós.

Se a crítica for no sentido construtivo já é diferente, aceito com espírito democrático.

Nem todas as decisões que toma são do agrado da totalidade das pessoas, seria muito difícil agradar a todos. Como lida com estas opções?

Vivemos numa democracia onde de quatro em quatro anos somos chamados a avaliar o trabalho de quem elegemos.

Em cada eleição apresentamos o nosso projeto para aquele mandato, em Santa Marta de Penaguião o nosso projeto foi, desde o início, pensado a 12 anos, não tivemos pressa em fazer algumas coisas sem pensar.

A verdade é que uma esmagadora maioria dos penaguienses nos reelegeu em 2017 e 2021, prova que a maioria aprova os nossos projetos.

É minha preocupação avaliar o mérito dessas críticas porque também elas nos ajudam a melhorar o trabalho desenvolvido.

A ideia que ainda agora referiu de ter inicialmente um projeto a 12 anos para Santa Marta de Penaguião, ficou sublinhada com as palavras-chave que usou em cada uma das campanhas, “Acreditar”, “Confiar” e Confirmar”. Está próximo do final do seu último mandato, havendo algumas obras ainda a decorrer, sente que aquilo a que se propôs foi conseguido?

O projeto que eu e a minha equipa apresentamos em 2013, em termos de conceção, está feito.

Aquilo que defendemos em 2013 continuamos a defender hoje, é um projeto consolidado, não temos dúvidas disso.

Tínhamos dois eixos fundamentais, o primeiro era a melhoria do bem estar dos penaguienses e neste campo demos um salto substancial. Hoje podemos dizer que conhecemos bem a nossa comunidade e ela viva cada vez melhor. Com dificuldades, sem dúvida, mas já melhoramos muito comparativamente com a realidade em 2013.

O segundo eixo era o desenvolvimento, uma grande aposta na área do vinho. Em 2013 só existiam as Caves, hoje já temos 17 ou 18 produtores com boa dinâmica e a criar riqueza. Afirmamos também Santa Marta de Penaguião na região e no país.

Em 2013 éramos um concelho só conhecido pelo vinho, muito por responsabilidade do trabalho desenvolvido pelas caves nos anos 70 e 80. Hoje não, fruto também do projeto da N2 a realidade é outra, afirmamos Santa Marta e temos uma palavra no país. Temos conseguido chegar a lugares de decisão e naturalmente isso satisfaz-nos muito.

Falta-nos concretizar as obras em curso por várias razões. Acreditamos que em 2025 vão estar prontas e aí sim, vamos criar uma oferta ao nível do turismo que vai engrandecer Santa Marta e contribuir para a melhoria de vida de todos que aqui vivem.

Será o “Confirmar” de Santa Marta de Penaguião?

Sim, será o confirmar Santa Marta de Penaguião como um concelho diferente, duriense, solidário, mas diferente. Temos a padroeira e o mentor, somos o “Berço D’Ouro” e podemos dizer que o nosso Douro, a nossa região, é o que é com um papel determinante de Santa Marta de Penaguião na sua fundação e agora na sua promoção.

Concluindo os projetos físicos vamos dar um grande contributo para que a promoção da nossa região seja ainda melhor.

Que obras são essas e que datas aponta para a sua conclusão?

As datas são sempre difíceis, tivemos algumas dificuldades que nos ultrapassam mas que entretanto já ficaram resolvidas.

O Espaço Douro Vivo já está concluído e temos registado, com agrado, que já foram partilhadas milhares de fotografias tiradas lá, significa que já teve muitas visitas.

O Ligação com História de João Mansilha deverá estar concluído no primeiro trimestre do próximo ano. Devendo ainda estar para breve a adjudicação do Espírito Santo.

Outro projeto que tivemos que interromper, por um problema de obra, foi o Origem Douro, que vamos tentar reiniciar em 2023, sendo que a sua conclusão será para 2024.

É nossa convicção que no ano 2024 teremos este ciclo de espaços físicos, de visitação e conhecimento, concluídos. Santa Marta estará num patamar de excelência no que toca à promoção da sua história, dos seus produtos e das suas gentes, mas também da região.

Quando refere problemas com as obras, o que aconteceu?

Houve a questão da pandemia, os concursos ficaram vazios sete vezes, só na oitava tentativa é que conseguimos, e os pedidos de revisão do tribunal de contas.

Situações que já estão ultrapassadas. Para o Parque Espírito Santo, depois de concursos vazios, tivemos agora uma série de propostas. Acreditamos que estamos a retomar a normalidade e que em 2024 todas estas obras estarão prontas.

Em anteriores declarações públicas já afirmou que, depois de muito tempo virada para o Douro, é importante que Santa Marta de Penaguião se vire agora mais para a Serra do Marão. De que forma pode o concelho fazer isso?

O concelho já está virado para a serra. Em 2013 os penaguienses não conheciam a serra, tirando todos aqueles que vivem nas fraldas do Marão, não conheciam a serra e desconheciam as suas melhores imagens.

Neste momento estamos a trabalhar num projeto em conjunto com a UTAD tendo em vista a valorização da castanha, perceber a potencialidade da nossa castanha, qual a espécie que pode criar mais rendimento e depois fazer um investimento nesse setor, sendo que este estudo tem toda  a cadeia económica, desde a produção, passando pela escolha das áreas de produção e a comercialização. Um trabalho completo da árvore à mesa das pessoas.

Pensamos ter este estudo concluído no primeiro trimestre de 2023 para depois, juntamente com os baldios, trabalhar na sua implementação numa área disponível que temos de 600 hectares. Podemos ganhar dimensão.

Estamos também a trabalhar na atratividade da serra, em conjunto com o ICNF e a APA para a questão dos pareceres para criar três ou quatro investimentos. Com a Universidade do Porto estamos a trabalhar para um observatório. Estamos convencidos que até 2025 vamos integrar o Marão no Douro. Se não houvesse Serra do Marão os nossos vinhos seriam vinhos verdes. É uma oportunidade que temos e que não podemos desperdiçar.

Já fizemos uma primeira caminhada noturna na serra e no próximo ano faremos mais alguns investimentos, que não vou agora divulgar porque ainda estão a ser trabalhados. O Marão está a 50 minutos do Porto e tem um potencial de visitação que temos que captar.

Santa Marta de Penaguião está localizada entre Peso da Régua e Vila Real, duas cidades de dimensão maior. Este fator é positivo ou negativo para o concelho?

Até 2013 foi sempre considerado que era um constrangimento. Era uma dificuldade estarmos perto, a verdade é que o foi.

Nos anos 80 e 90, principalmente na década de 90, houve algumas decisões que não nos favoreceram. Uma muito simples era a ideia que as grandes superfícies (Continente, Pingo Doce, etc), iriam acabar com os pequenos comércios, havendo uma posição contrária à sua instalação. Isso retirou-nos oferta porque as pessoas vão à Régua, temos uma superfície a cinco ou 10 minutos daqui. Ao sábado e domingo, quem quiser ver penaguienses é ir à Régua.

Connosco é diferente, só temos a ganhar. Santa Marta de Penaguião só tem a ganhar com a dinâmica de Vila Real e da Régua, temos é que ter dois caminhos. Temos para oferecer aquilo que essas duas cidades não têm, a proximidade, a segurança, mais tempo e melhores relações. Temos é que ter as melhores escolas do país, uma boa cobertura de assistência médica e serviços públicos.

Se as pessoas tiverem ideia que os serviços públicos dão resposta, que a nossa escola é melhor e que podemos evoluir nas questões da saúde, temos um grande potencial.

O que nos falta é aquilo que gostaria de ter cá, um projeto de mobilidade que permita, por exemplo, aos estudantes da UTAD, continuarem a viver cá. Transportes públicos que os levem de manhã e que os tragam à noite, o mesmo para todos os que trabalham na zona industrial de Vila Real.

Faltam-nos circuitos circulares, passo a redundância, onde os transportes passem de hora a hora ou a cada duas horas, posam ter transporte em Vila Real, Régua e Santa Marta.

Essa responsabilidade já existe ao nível da CIM, mas a nossa CIM é assimétrica. É um desafio que é colocado ao ministro, criar um programa que permita uma situação semelhantes à que existe nas Áreas Metropolitanas, que dê às pessoas a possibilidade de viver fora dos grandes centros, sem que percam conforto ou rendimento.

Se conseguíssemos, de facto, um bom modelo, Santa Marta cresceria acima da média, porque de facto temos todas as outras qualidades que Régua e Vila Real, não podem dar pelo sua dimensão.

Ao referir a CIM Douro deu o mote para a próxima questão. Muitas vezes os 19 autarcas que a integram referem-se a si próprios como vereadores de uma grande cidade. É um dos vice-presidentes desta Comunidade Intermunicipal. Até que ponto este trabalho conjunto entre os autarcas é benéfico para cada um dos municípios na sua individualidade?

A CIM Douro, a partir de 2017, com uma nova liderança deu passos muito significativos. Hoje em dia é uma entidade intermunicipal que funciona bem, mas com muita dificuldade, pela sua dimensão e pelas suas assimetrias.

Não é fácil trabalhar uma CIM com 19 municípios, com a distância que separa Santa Marta de Freixo de Espada à Cinta, por exemplo. Estas barreiras são ultrapassáveis, mas difíceis de conciliar, isso tem-se conseguido de facto pela disponibilidade, competência, interesse e vontade doas atuais autarcas.

Ao longo dos seus dois mandatos, houve da parte dos autarcas uma disponibilidade muito grande para perceber o conceito de CIM, a importância do nosso Douro e tem sido um gosto trabalhar com todos eles. Somos de facto os obreiros e os operários desta magnífica região.

Digo com gosto e confiança que temos tido extraordinários resultados e isso em muito se deve à liderança dos nossos colegas de Sernancelhe e Torre de Moncorvo, que tenho a felicidade de acompanhar neste mandato.

O salto foi no mantado de 2017-21, agora estamos numa continuidade que tem dado fruto e, sem qualquer tipo de falsa modéstia, que a CIM Douro no final deste mandato vai ser um exemplo a seguir por muitas CIM’s.

Há um legado que deixa não só em Santa Marta como em todo o país, a Rota da Estrada Nacional 2. Sente-se o “pai” da N2, como já muitos o apelidaram?

Sim (risos). É uma boa vontade dos meus colegas mas sinto um orgulho muito grande de termos sido nós a avançar com a ideia.

A ideia foi boa e funcionou, foi bem recebida e aceite por todos os meus colegas ligados por esta via.

Digo, com orgulho, que é dos melhores e pode ser dos maiores projetos nacionais em termos de promoção territorial, coesão e criação de riqueza.

O turista está com uma média de duas, três noites, estou convencido que em breve passará para quatro noite, tornando este modelo um dos mais promissores nessa área. A N2 é uma estrada extraordinária.

Esperamos agora da parte do Governo conseguir os apoios para consolidar este projeto para que se mantenha por muitos e muitos anos.

Tem um número dos turistas que passam pela N2?

Não é fácil ter números muito exatos. Estamos a trabalhar num observatório para fazer esse estudo mas, por ano serão mais de 75 mil pessoas a percorrer esta rota.

A pandemia acabou por nos beneficiar porque a nossa oferta é para pequenos grupos, sem concentração de pessoas, em espaços de turismo rural, o que era recomendado na altura. Retirou-nos muitos turistas estrangeiros, principalmente os motards espanhóis, mas já estamos a recuperar

O seu mandato está a terminar. A questão da sucessão está resolvida?

Sim, a nossa transição vai ser segura. Digo que vai ser porque tenho essa convicção.

Como todos sabem a nossa transição foi muito turbulenta em 2013. É nossa obrigação não repetir os erros. Tivemos a felicidade dos penaguienses nos darem a sua confiança e agora é hora de retribuir.

Se ao longo deste 12 anos, que vão ser, houve colegas que me acompanharam é porque são bons e têm a minha totalidade confiança.

Tem um nome na cabeça?

A confiança vai por quem trabalhou estes anos todos comigo. Naturalmente as lideranças vão-se afirmando e toda a gente sabe que a proximidade das lideranças dá experiência e conhecimento.

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