Entrevista Política Torre de Moncorvo

Nuno Rodrigues Gonçalves: “Todos devemos ter o objetivo de conseguir fazer algo pela nossa terra”

[caption id="attachment_535" align="alignleft" width="200"]Nuno Rodrigues Gonçalves - Câmara Municipal de Torre de Moncorvo Nuno Rodrigues Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo / Legenda: Salomé Ferreira[/caption]

No ano de 2013, Nuno Jorge Rodrigues Gonçalves, tomou posse do cargo de Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo. Em conversa com o VivaDouro, o autarca falou acerca deste ano e meio de mandato e das expetativas que tem para o futuro do município.

Sendo que a sua formação é na área da advocacia, como é que se decidiu candidatar a Presidente de Câmara?

Há uma abrangência muito grande num curso de direito e isso também me permitiu ter um conceito sobre a questão politica, a questão económica e, também, uma de que eu gosto muito, a questão social. Durante a minha vida de vinte anos a advogar, foram muitos os julgamentos que fiz probo no, ou seja, que eram gratuitos para as famílias mais carenciadas e foi-se desenvolvendo esse bichinho do conceito social. Portanto isso trouxe-me uma mais-valia quando me decidi candidatar à Câmara Municipal, sendo certo que o percurso já vem com candidaturas, com outros companheiros, de há dezasseis anos para cá. O que também me permitiu ter alguns conhecimentos de como funcionava a instituição e também qual era o conceito que muitos Moncorvenses quereriam ter, e que não tinham tido até aí oportunidade de ter.

Até ao momento quais foram as maiores dificuldades que encontrou no exercício do seu cargo?

A principal dificuldade é esta, eu quando decido ou quando decidia na advocacia sabia que aquela decisão ia ser tomada, ia ser conseguida, ia ser de alguma forma tornada eficaz. Muitas vezes aqui temos uma série de problemas, desde logo com esta lei das finanças locais que é um problema para os municípios. Penso que se dá de alguma forma uma responsabilização maior aos municípios, para não cairmos naquilo que nos anos 80 muitas vezes caímos e que hoje estamos a pagar, o que também limita muito a ação do Presidente de Câmara e do município e também limita um cargo que foi eleito democraticamente. Às vezes as pessoas esquecem-se que no poder central, muitos dos ministros que exercem o cargo não foram eleitos democraticamente, foram uma escolha, muitos deles nem sequer fazem parte da lista de deputados e penso que essa degradação da autonomia do poder local tem sido aquilo que, de alguma forma, mais me afeta e mais dificuldades me traz a mim, e penso que aos meus colegas também.

Pretende recandidatar-se ao cargo nas próximas eleições autárquicas em 2017?

Ainda estamos em 2015, não tenho capacidade de prever o futuro. Sei que o que propusemos aos moncorvenses não vai ser totalmente realizável nestes dois anos e portanto se me perguntarem se gostava de ver realizados todos ou 90% daquilo que se propôs, gostava. Se é possível nestes dois anos, não creio, porque também fomos acometidos desta crise que não é só uma crise de concelho, é uma crise nacional. Há alguns projetos estruturantes que deixaria de deixar na autarquia, gostava que a exploração das minas do ferro de Torre de Moncorvo fosse uma realidade, gostava que os 80 milhões que foram conseguidos através de uma empresa internacional para vir apostar no Douro e mais concretamente em Torre de Moncorvo na energia eólica fosse uma realidade, gostava também que o cais da Foz do Sabor, que está aprovado, fosse também uma realidade. Portanto esses são três projetos âncora que eu gostaria muito de ver realizados no meu município, independentemente de estar eu ou não no cargo, gostaria é que ficassem em Torre de Moncorvo. Por isso 2017 ainda é muito longe para sabermos se me vou recandidatar ou não.

Em relação ao município, quais são os principais problemas que Torre de Moncorvo enfrenta neste momento?

As dificuldades que o município de Torre de Moncorvo está a enfrentar são aquelas que os municípios à nossa volta também estão. Desde logo a grande dificuldade de fazer com que o quadro de jovens se fixe em Torre de Moncorvo. Depois também a crise que de alguma forma nos assolou e que fez com que muita gente emigrasse. Mas também é uma crise de oportunidades porque muitas pessoas que viviam no litoral com a crise regressaram ao município de Torre de Moncorvo. Mas tem sido essa a grande dificuldade, conseguir fixar a população jovem no município.

A autarquia já procedeu a alguma medida para fixar a população jovem no município?

Desde logo temos um apoio social que visa melhorar as condições de vida daqueles que menos condições têm mas que insistem em ficar no concelho e em ser pais em Torre de Moncorvo. Temos também um protocolo com a Crescer Bem, que permite que a Câmara Municipal, juntamente com essa associação, seja um fator de motivação à natalidade, apoiando com enxovais, com roupa e com comida. Isto é uma gota de água, mas que para muitas famílias representa muito do seu orçamento e essa é uma das funções que nós queremos ir mais além. Temos também o banco solidário, a Unidade Móvel de Saúde, que nos permite que o concelho tenha uma abrangência em termos técnicos de medicina que não tinha de outra forma, porque há muita população que não se desloca das freguesias até à sede de concelho e assim nós conseguimos levar essa Unidade Móvel de Saúde a várias zonas do concelho. Outra das grandes medidas, que eu costumo dizer que as grandes medidas não são só aquelas que refletem porque construímos algo, são também aquelas que, de certa forma, vão resolvendo  pequenos problemas no dia-a-dia das pessoas, que é o 112 Social. Uma parceria que temos com a Santa Casa da Misericórdia, onde dois técnicos com uma carrinha conseguem resolver os problemas daqueles que mais necessitam, ou seja, a mudança de uma torneira, a mudança de uma lâmpada, tudo isso a câmara municipal implementou e está no terreno, ou seja, estamos de alguma forma a tentar nesta nossa função proactiva que as dificuldades não sejam sentidas por todas as pessoas de uma forma mais grave do que aquela que já é e há qual nós somos alheios obviamente.

O município vai assinar brevemente contratos na área da saúde, que mudanças vão trazer essas medidas?

Vai permitir uma maior proximidade, uma delas é também com a Unidade Móvel de Saúde, temos um maior leque de ofertas naquilo que queremos fazer e que queremos propor aos cidadãos. Vai ser hoje assinado como complementaridade a esse protocolo, um outro com a Associação dos Bombeiros Voluntários de Torre de Moncorvo, para o apoio ao transporte de doentes para unidades hospitalares do litoral. Assinámos também recentemente com o Hospital Dona Estefânia, a possibilidade de os pais das crianças internadas do nosso concelho poderem ter desde alojamento, até ao pequeno-almoço e lavandaria, tudo gratuitamente, para acompanhar as crianças que sejam internadas nesse hospital. É a forma que nós temos enquanto câmara municipal de aproximar e fazer com que as pessoas se sintam acompanhadas em momentos difíceis da sua vida.

Como é que classifica os serviços de saúde em Torre de Moncorvo? Considera que a população está bem servida?

A população em termos de saúde está bem servida, agora se me disser se estou contente com o que tenho, eu acho que nenhum autarca está contente com aquilo que tem, quer sempre mais. O que é certo é que temos um Centro de Saúde com ótimas instalações, temos um Centro de Saúde que foi construído e equipado com serviço de unidade básica, infelizmente não o temos, apesar de termos a estrutura e o equipamento, mas estou certo que quando for reequacionado este assunto, Moncorvo poderá estar na linha da frente daqueles que já têm o equipamento. Temos uma unidade de cuidados continuados que também de alguma forma tem um equipamento excelente e que tem serviços que apoiam de uma forma digna e competente todas as necessidades nessa área. Hoje todos os Moncorvenses têm um médico de família e isso é importante para o concelho, quando há cerca de dois anos mais de mil utentes não tinham médico de família.

Em relação ao desemprego também é uma preocupação?

O desemprego é uma preocupação, é óbvio, temos desemprego na faixa etária dos mais jovens e também naquelas pessoas em que empresas fecharam ou deixou de haver também aquela motivação do empreendimento público. Infelizmente havia muita gente que estava aqui empregada, quer no túnel do Marão, na A4, e também na barragem que agora chegou ao fim. Portanto essas pessoas vieram engrossar os números do desemprego. Eu creio e estou certo, que Moncorvo tem capacidade para dar essa volta, desde logo se o projeto das minas de ferro for uma realidade, em breve, como eu espero que seja. Portanto Moncorvo poderá ser brevemente um empregador não só da mão-de-obra do concelho como dos concelhos limite.

Como é que a autarquia tem enfrentado a crise económica que o país atravessa? Que reajustamentos foram realizados?

Nós ao contrário do que se poderia pensar fizemos ações no sentido de não acompanhar a crise mas de ser pró-ativos contra a crise. Desde logo apostámos no Turismo, fizemos com que mais unidades de Turismo abrissem em Torre de Moncorvo. Fizemos com que festas que havia em Torre de Moncorvo se tornassem mais profissionais, não aumentámos o número de festas mas fizemos com que aquelas que existiam pudessem trazer mais pessoas e mais retorno económico. A ideia é doze meses, doze ações e é através dessas ações que eu entendo que o concelho consiga também fazer face a essa crise. Quanto à autarquia propriamente dita, tivemos que olhar para o passado e tivemos que prever o futuro. Portanto não podíamos cair nos mesmos erros, não podíamos cair na ostentação e tínhamos que dar respostas aquilo que o cidadão em concreto quer. Se o que já existe está deteriorado não há razão para haver obra nova, há razão é para arranjar aquilo que nós temos e tem sido isso que tem sido feito em diversos equipamentos municipais. Tentamos também conseguir ir ao máximo do que os quadros comunitários nos possam dar, conseguir que qualquer candidatura seja sempre na ordem dos 85% de financiamento, para que Torre de Moncorvo consiga ter obra sem se endividar e depois também o pagamento de toda uma divida herdada que obviamente para sermos credíveis temos que nós próprios nos dar a essa credibilidade junto dos fornecedores, e esse também tem sido um processo que temos amadurecido e temos conseguido felizmente ir ao interesse também de quem nos fornece.

Quais é que são os setores económicos vitais para o concelho?

A agricultura é o nosso setor vital, desde logo pela amêndoa, a azeitona e a vinha, são fulcrais para a economia de Torre de Moncorvo, mas são fulcrais também para aquilo que queremos impor noutra área que para nós tem sido vital que é o turismo. Esta atividade tem de estar ligada obviamente à produção primária desde logo à agricultura. Eu diria que a agricultura juntamente com o Turismo tem sido aquilo que este executivo tem promovido. Esperamos agora também que as minas sejam uma realidade e também o parque aquático que em Junho será reaberto nos possa trazer outra oferta, que será sem sombra de dúvidas essencial para todos os municípios do Douro. Tudo isto são vetores que nós queremos identificar em Torre de Moncorvo como uma vila do interior que tem capacidade de oferecer o melhor que há no litoral e a sua diversidade. Fazendo de Torre de Moncorvo o mesmo que uma romã, onde há diversos focos importantes e diversos polos de atração numa unicidade que nós também reconhecemos como sendo Transmontana e Duriense.

O turismo é portanto uma das principais prioridades do município neste momento?

O turismo é uma das grandes apostas do município mas não é só o turismo do município de Torre de Moncorvo, eu penso que o turismo é uma aposta do Douro. Moncorvo tem é a capacidade de estar junto ao Património Mundial do Côa, ao Património Mundial do Douro, temos que olhar para o Turismo pela forma ambiental. Temos alojamento de alta qualidade, uma gastronomia fabulosa, produtos regionais onde as célebres amêndoas cobertas de Torre de Moncorvo são um produto conhecido nacional e internacionalmente, depois temos também algo que é muito próprio de nós, que é o saber receber e isso é um património que não pode ser de mais ninguém, é nosso e temos que o aproveitar para dar a conhecer a vila de Torre de Moncorvo.

Sendo que já se encontra à frente do município desde 2013, que balanço faz do mandato até agora?

Eu acho que tem sido positivo, desde logo porque conseguimos que Moncorvo fosse reconhecido e para isso tivemos alguns vetores que foram essenciais. A requalificação da praia da Foz do Sabor conseguiu trazer para cá o Campeonato Nacional de Motonáutica, foram de tal forma superadas as expectativas que este ano teremos o Campeonato Europeu de Motonáutica na Foz do Sabor. Temos também o grande projeto que é o reconhecimento da Amêndoa Coberta de Torre de Moncorvo como um produto de origem protegida, que também está a finalizar. Penso que a grande vantagem é poder sair e cumprimentar toda a gente com um bom dia ou boa tarde e saber que as pessoas percebem que o que estamos a fazer é em prol delas e é para o futuro delas, isso é o mais importante e o mais positivo.

Qual é o principal objetivo a realizar até ao fim do mandato?

O meu principal objetivo a realizar é poder dizer que as minas de Torre de Moncorvo são uma realidade.

Neste momento encontra-se satisfeito com o que fez até agora tendo em conta aquilo que prometeu na altura das eleições?

A política é sempre uma insatisfação, é a arte da insatisfação, eu dizer que estava satisfeito era dizer que não tenho mais nada para fazer. Eu penso que o executivo pode estar satisfeito com a forma como lida com as pessoas e com o projeto que prometeu que é possível ser realizado, e quando conseguimos patamar a patamar ir cumprindo aquilo que prometemos desde logo podemos dizer que nos encontramos satisfeitos. Portanto, daquilo que nós prometemos acho que conseguimos dar por satisfeito o que temos conseguido. Daqui para a frente é aproveitar ao máximo o quadro comunitário que aí vem e reformular o nosso próprio projeto, com aquilo que neste momento pensamos que seja o melhor para Torre de Moncorvo. Desde logo uma das iniciativas que eu gostaria de terminar era a Ecopista do Sabor, mas aqui numa ótica de uma associação de municípios do Douro Superior, em que conseguíssemos ter uma grande Ecopista que iniciasse no Pocinho, ou seja, no Douro e termina-se em Miranda do Douro.

Em relação à oposição, como é que é a vossa relação?

É uma relação boa. Tem sido uma relação de algum conforto para todos, penso que colocamos em primeiro lugar os interesses do município e desde logo isso dá-nos um conforto para podermos falar uns com os outros. Mas também tem sido obviamente uma discussão dos pontos de vista e dos objetivos de cada um, porque essa é a pimenta da oposição e do poder, se tivéssemos todos de acordo não havia oposição nem havia poder. Não funciona como força de bloqueio e isso é o mais importante, podemos ter divergências mas temos uma convergência de certeza absoluta que é o bem-estar e a melhoria do concelho.

Para finalizar, quer deixar uma mensagem para a população?

Quero que a população de Moncorvo se sinta cada vez mais feliz e que tenha o sentimento que é uma população nobre e que o concelho de Torre de Moncorvo tem todas as potencialidades para no futuro conseguir, porque já conseguiu, vencer adversidades, é um concelho que tem todas as condições para prosperar num futuro muito próximo.

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