[caption id="attachment_3538" align="alignleft" width="300"] Nuno Magalhães, professor emérito da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) / Foto: Salomé Ferreira[/caption] Nesta edição o VivaDouro contínua uma série de entrevistas com várias personalidades acerca da evolução do território nos anos que se seguiram à classificação de Património Mundial pela UNESCO. Leia a entrevista a Nuno Magalhães, professor emérito da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e fique a conhecer a viticultura do Douro pelos olhos do docente ao longo destes quinze anos.  Em 2001 o Alto Douro Vinhateiro (ADV) foi considerado como Património Mundial da Humanidade. Cerca de 15 anos depois desta classificação qual é o retrato que faz da região neste momento? Obviamente que este reconhecimento do Douro como Património Mundial pela UNESCO deu um contributo, não só para a visualização da região como também um certo estímulo para estabelecer regras mais consistentes. Mas não se pode dizer que existiu uma relação causa efeito a 100 %, uma boa parte da dinâmica que houve não foi exclusiva desta inscrição. Obviamente teve um papel fundamental, muitíssimo importante, e é preciso haver situações destas para que realmente tudo evolua. Mas, de facto, houve esse dinamismo e essa consciencialização de que o Douro tinha que ser um Douro diferente, modernizar sem perder os seus recursos e a sua ancestralidade. Existiu uma modernização e uma adaptação que foi necessária, principalmente com a introdução da mecanização na vinha do Douro. Qual foi o contributo desta inscrição para o setor vitícola? A inscrição foi muito importante mas já havia uma certa dinâmica de transformação. Veio dar novas regras, novos incentivos, incutir um novo respeito, o que era fundamental porque muitas vezes o agricultor, pequeno ou grande, quando não tem consciência consegue destruir a paisagem porque economicamente é mais vantajoso para ele. Mas isto é um bem de todos, neste momento, um bem da humanidade. Considera que o setor está mais moderno neste momento? O setor está muito mais desenvolvido porque houve uma incorporação de massa cinzenta, de técnicos que se empenharam e que estão no campo a desenvolver trabalho em sinergia. Falando também de pequenos e grandes viticultores. Quem é que beneficiou mais com esta inscrição da UNESCO?  Acho que foram as grandes empresas ou vinhas, todas as que tiveram de recorrer a novos sistemas de cultura. A viticultura tradicional é mais estática. Não sei se beneficiaram grande coisa. Talvez apenas agora que há muita procura de uvas de vinhas velhas, isso venha valorizar um pouco as uvas, não tanto como seria desejável, mas é só nesse aspeto. De resto, não vejo que haja assim benefício. Pode haver benefício para o pequeno agricultor, indiretamente, pela imagem que se criou do Douro, do reconhecimento. E, talvez, num futuro breve beneficie também do incremento do que é dado pelo próprio turismo. Há pequenos produtores que já começam a ser produtores e engarrafadores, esses não são os pequeninos, mas de qualquer maneira começam a desenvolver-se paralelamente com eles uma atividade turística que vem dar uma mais-valia indireta, como existe noutras regiões. [caption id="attachment_3539" align="alignleft" width="300"] Nuno Magalhães, professor emérito da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) / Foto: Salomé Ferreira[/caption] No futuro a viticultura poderá beneficiar deste reconhecimento da região? Aliando-se ao turismo… Indiretamente. Nunca há uma relação causa efeito completa. Há com certeza porque as pessoas começam a ter mais imagem daqui e quando vêm cá ficam a conhecer os nossos vinhos. Esta inscrição da UNESCO veio dar um contributo para se conhecer o Douro. As pessoas vêm cá e ficam espantadas com a paisagem e com a diversidade dos vinhos. Há uma diversidade muito grande A diversidade também existe a nível orográfico, quer dizer, o relevo, as diferenças de altitude, as diferenças de clima. Repare, na Régua chove 900 milímetros, em média, e vamos para Barca d'Alva e chove 400. Há aqui uma diversidade em função da latitude, do afastamento do mar, da influência mediterrânica e da altitude para produzir tipos de vinhos diferentes. Quer dizer, não vamos produzir vinho do Porto aqui em cima. Podemos, mas não é um vinho do Porto tão bom como é produzido nas zonas com quotas baixas. Mas, em compensação podemos produzir vinhos. Os moscatéis estão acima dos 500 metros e os vinhos brancos também são muito melhores aqui nas zonas mais altas do que seriam nas quotas mais baixas. Essa componente é que eu acho interessante, que faz diferença em relação a outras regiões. As outras regiões produzem um produto. Aqui não produzimos o melhor vinho do mundo mas produzimos de tudo. O que falta à região do Douro para ser ainda melhor a nível vitícola? Quais são as principais dificuldades que devem ser colmatadas neste momento?  A nível de técnicas vitícolas está a ser uma situação evolutiva e de adaptação. E aí, penso que estamos a seguir o bom caminho. No entanto a situação económica da região no seu todo não é muito estável. Melhorou muito no aspeto social, na regulamentação do trabalho, embora ainda tenha de melhorar a nível de condições. Se vamos para outras regiões vitícolas mundiais, pelo menos europeias e da América, as condições de vida dos trabalhadores são melhores. Tem que haver um estímulo para que isso se desenvolva. A nível económico é que é complicado por causa da diferença de preços dos produtos. Temos custos de produção altíssimos, produções fatalmente muito baixas. Isto cria uma situação de uma certa angústia, digamos, de instabilidade. Quando se reúnem todas as opiniões e se analisa profundamente a região do Douro vemos que há alguma coisa que ainda é um pouco instável, que é necessário corrigir, mas com os pés assentes na terra para não destruir também a região. O que é necessário preservar é o Douro, no seu todo. Se acabarmos, por exemplo, com medidas que sejam mal aplicadas ou mal pensadas podemos ficar sem uma boa parte do território. E o território é o todo. Em jeito de balanço foi ou não uma mais-valia para o Douro esta inscrição na UNESCO? Isso é indiscutível que sim. É necessário é que as normas que foram definidas, na prática, sejam rigorosamente aplicadas. O que não se verificou na avaliação dos dez anos. Por outro lado, também tem que haver algum bom senso de tolerância porque, às vezes, os esquemas burocráticos são contraproducentes. Quando se vai a aspetos de pormenor e se quer aplicar determinados aspetos, deveria haver alguma flexibilidade. Tem de haver um mínimo de flexibilidade ou melhor, de não burocratização e de maior facilidade em que, por exemplo, a nível de subsídios de incentivos, cheguem rapidamente ao viticultor. A vitivinicultura é uma atividade económica como outra qualquer, nem sempre se tem noção disso. Tem que haver uma mentalização de que é uma atividade económica, isso mais por parte do empresário, e que tem uma dinâmica e uma forma de estar diferente do que é a atividade comercial pura e dura, ou como é a atividade industrial. O que é que espera do Douro nos próximos quinze anos? Espero que continue a ir no bom caminho.

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