O projeto europeu Montevitis, com a participação do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), tem o objetivo de criar redes entre instituições de investigação dos países dos Balcãs Ocidentais e os seus homólogos de alto nível na União Europeia, no domínio da viticultura de precisão e das alterações climáticas.
O Projeto Montevitis é financiado por fundos europeus, através do Horizon Europe Twinning Action. A instituição que lidera o projeto é a University of Donja Gorica (UDG), sediada na capital de Montenegro (Podgorica).
Relação com os vários parceiros
O Montevitis conta com diversos parceiros internacionais: a UDG (Montenegro), o CITAB/UTAD (Portugal), o Instituto de Potsdam para Investigação sobre o Impacto Climático (PIK, Alemanha), a Universidade de Florença (UNIFI, Itália), o Instituto de Ciência e Tecnologia de Luxemburgo (LIST), a Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI) –consultora com a missão de auxiliar o projeto na sua divulgação, imagem e documentação – e o Instituto Hidrometeorológico e Sismológico do Montenegro (IHMS).
Para além destas instituições, são parceiros essenciais os produtores de Montenegro – caso da Rajkovic Rade (RAJ), a Buk Winery (BUK), a Milovic Vinarija Kruna – Ulcinj (KRU) e a Vinjarija Vucinic Zenta (ZNT). Estes parceiros desempenham um papel importante no estudo das alterações climáticas por apresentarem os desafios a ultrapassar e a informação recolhida no campo e adega, inclusivamente as datas das fases fenológicas, como o abrolhamento, o afloramento, a formação de fruto e a maturação da uva.
Além da fenologia, têm, também, partilhado dados de produção de uva e qualidade. Os produtores, em Montenegro, estão a fazer precisamente o registo desses dados, para comparar e observar o que está a acontecer neste país. Assim, é possível obter dados para calibrar modelos de produção e qualidade da uva que é produzida e a própria fenologia.
Objetivos do Montevitis
Na vertente de investigação, o principal objetivo do projeto é apoiar a viticultura em Montenegro e, também, na Europa. Desta forma, o que está a ser feito em Montenegro pode ser replicado em território nacional.
Outro dos objetivos do projeto é apoiar a UDG na colaboração em futuros projetos – isso é importante na dinâmica de twinning, visando apoiar uma universidade e dotá-la de mais ferramentas na área da investigação.
CITAB/UTAD: a escolha certa
Outros projetos, como o Clim4Vitis, desenvolvido em Portugal, apresenta uma dinâmica muito semelhante à do Montevitis. Neste caso, o CITAB/UTAD (Portugal) assumiu a liderança do projeto.
Com a experiência adquirida, António Fernandes, investigador do CITAB, reforça que o centro é “uma parceria valiosa, uma vez que liderou um projeto semelhante (Clim4Vitis), na pessoa do Prof. João Santos, enquanto coordenador”. “A nossa experiência tem sido válida e importante”, acrescenta.
No projeto, há uma componente muito forte de investigação, na qual se investiga as alterações climáticas na viticultura, com base em estudos climáticos, fenológicos e de modelação. Há, ainda, uma componente institucional muito importante, voltada para a vertente twinning – têm sido realizados vários workshops e webinars para a divulgação de conhecimento e ferramentas para a universidade.
Inovação como ponto central
O aspeto mais inovador deste projeto é o trabalho com Montenegro, uma vez que existem muito poucos estudos sobre os impactos das alterações climáticas na viticultura da região. “Dentro do projeto, os membros do MONTEVITIS foram os primeiros a escrever um artigo científico nesta matéria. Podendo o CITAB/UTAD ser pioneiro, nesse âmbito”, enaltece António Fernandes.
Ainda no contexto do projeto, está também a ser desenvolvida uma plataforma de apoio à decisão, na qual estão a ser compilados diversos dados climáticos produzidos pelo Instituto de Investigação de Potsdam e pela UTAD. São, igualmente, registadas informações sobre fenologia e produção. Estes dados, nunca publicados, são considerados pioneiros e representam um contributo significativo para o avanço do conhecimento científico na área.
Desafios pelo caminho
O principal desafio do projeto reside na recolha de dados de fenologia e produção, uma vez que não existem registos publicados deste tipo para as variedades de uva da região.
Nesse sentido, os dados atualmente disponíveis são os que estão a ser recolhidos no âmbito do projeto. Isto coloca um desafio importante, uma vez que a modelação da fenologia e da produção exige sempre dados observacionais que permitam calibrar os modelos. De que forma? São inseridos os dados observados, como o ano e quantidade da produção, com as condições climáticas associadas. Depois, o modelo tenta replicar essa situação para condições climáticas novas, em cenários futuros. No entanto, são precisos vários anos de dados de fenologia.
O investigador do CITAB conclui com uma certeza: a equipa tem sido inovadora na forma de colmatar este desafio. Embora se trate de um obstáculo, representa também uma oportunidade para impulsionar investigação futura, já que marca o início da tarefa de recolha de dados – um processo que deverá ser continuado no âmbito de projetos futuros. A recolha de um volume significativo de dados é essencial para cumprir as exigências de modulação e calibração.