É reitor da Universidade de Trás-os-Montes e presidente do Conselho de Reitores, perdeu a mulher, por doença bastante cedo, ainda o seu filho Diogo tinha apenas 6 anos mas garante que essa ausência só os uniu ainda mais. Neste mês em que se celebra o Dia do Pai, o VivaDouro falou com Fontainhas Fernandes, um homem de trabalho mas também de família.

O seu filho tinha 6 anos quando a sua mulher faleceu, como tem sido o trajeto ao longo destes 13 anos?
Quando se desempenha um cargo público é necessário ter estabilidade e isso passa por ter um backoffice, que neste caso está centrado no meu filho, que me apoia nas grandes decisões.
O que aconteceu é que a partir dos 6 anos ele começou a iniciar um processo de coresponsabilização na tomada das decisões normais do quotidiano de uma casa.
Foi fácil ser pai sozinho?
De um enorme orgulho. Neste momento ele é um dos meus grandes esteios na vida pessoal. Mais do que um filho é um conselheiro, um amigo, percebendo sempre que há uma hierarquia a respeitar que é o pai.
A família é muito mais do que um filho e a minha é bastante alargada, entre irmãos, primos, etc, somos muitos e há uma grande entreajuda. Sempre que eu tenho que me ausentar há sempre alguém que o apoie quando ele necessita.
Tudo isto se tornou mais fácil por residir em Vila Real?
Eu costumo dizer que Vila Real é um excelente local para se educar filhos porque, não há problemas de trânsito, a escola é segura e confiável, há um bom sistema de ensino e há contextos que vão além da família, nomeadamente os amigos, que nos ajudam em situações imprevisíveis. Eu costumo dizer que no caso de ter que me descolar a Lisboa por motivos profissionais eu colocava-o no “parcómetro” (risos), ou seja, havia sempre um amigo que ficava com o meu filho e eu compensaria numa outra altura.
Por outro lado não me posso esquecer que eu vivo no centro da cidade onde tudo se faz a pé, portanto, mesmo as atividades extra curriculares (natação, inglês, etc) eram fáceis e rápidas de chegar.
Hoje em dia, tendo o seu filho 19 anos, esse processo talvez seja mais fácil mas, com 6, 7 ou 8, foi fácil substituir a figura maternal?
Em termos práticos, de organização familiar, foi diferente. Eu passei a organizar a minha vida, em especial os horários, de acordo com os horários dele. Ou seja, eu almoçava com ele todos os dias e levava-o à escola, depois, fora do horário escolar, se fosse para brincar eu brincava com ele, se fosse para estudar, ele estudava e eu trabalhava.
No dia em que ele estivesse doente ou de férias eu tinha que adaptar a minha vida.
É evidente que a mãe é uma figura incontornável e insubstituível e é natural que o género feminino tem determinadas qualidades que o género masculino não tem mas, as outras mulheres da família souberam ajudar nesse papel, mesmo dando-me conselhos que me ajudaram, como as avós e as tias.
Por outro lado, o facto dele ser filho único levou-me a optar por fazermos férias juntos com a minha família toda. Não só o Natal e a Páscoa mas mesmo as férias de verão. Mesmo não tendo mãe o meu filho tem mais backoffice familiar do que muitas crianças de uma família dita normal.
Tornou-se um jovem muito mais aberto até porque sempre viajou imenso com os primos, os avós e os tios, criando nele um maior sentido de responsabilidade para ele criar os seus próprios meios.
Ainda há pouco tempo tive que ir aos Estados Unidos e ele no fim de semana foi ter com a família pelos seus meios, utilizando os transportes públicos, sem precisar que o pai o fosse levar.
Contudo há uma coisa que é preciso entender, o Diogo tem mãe, não nasceu de gestação espontânea e a mãe enquanto esteve presente deixou um legado e um conjunto de regras que ainda hoje são respeitadas. Digo isto não do ponto de vista religioso mas há um legado que ela deixa e deve ser respeitado.
O mais importante é que os pais devem ter tempo de qualidade com os filhos e dar-lhes ferramentas o mais cedo possível. Vivemos numa sociedade muito paternalista, muito protecionista e, numa sociedade cada vez mais global e digital isso é preocupante. Vou-lhe dar um exemplo: se nós tivermos mais tempo e de qualidade com os nossos filhos vamos evitar os problemas futuros da sociedade digital. Ainda um destes dias vimos um filme juntos em que eu lhe expliquei o contexto histórico mas quando fomos ver o filme de Churchill ao cinema foi ele que me explicou esse mesmo contexto histórico porque estava mais avançado do que eu no conhecimento dessa época, há uma partilha.
Muitas vezes as famílias até são mais numerosas e estão todos na mesma casa mas os filhos estão no mundo virtual e não no presencial. O importante é o tempo de qualidade e saber estar no momento certo.

Agora que ele já tem 18 anos é um jovem preparado para o que aí vem?
Eu acho que os jovens de hoje estão mais preparados do que na minha geração. E digo isto porque ainda recentemente estive em duas iniciativas públicas envolvendo estudantes da universidade e senti um enorme orgulho ao ver a qualidade das perguntas que esses mesmos estudantes colocavam.
Por exemplo, quando o ministro da defesa esteve na UTAD tivemos três questões colocadas por jovens, de grande dimensão. Nós é que achamos que eles não estão preparados. Estarão mais preparados que nós para enfrentar os vários desafios como as alterações climáticas, domínio das línguas e questões geoestratégicas. Nós é que podemos não estar preparados para os acompanhar.
O Diogo já está no ensino superior, não na UTAD. Gostava de ver o seu filho estudar na universidade onde é reitor?
Neste caso, dado o grau de proximidade julgo que é melhor para ele estudar noutra universidade por dois motivos: primeiro para não existir qualquer tipo de ralação endogâmica, que me parece de todo evitável e em segundo porque era importante para ele testar se está preparado para estudar fora de casa.