
O Alto Douro Vinhateiro recebeu no passado dia 3 de maio a maior prova de ciclismo para todos já realizada em Portugal. Foram mais de dois mil os atletas que participaram na prova, constituída por uma prova principal, a Granfondo (174 km), uma prova mais curta, Mediofondo (110 km) e a Douro Granfondo Gourmet (15 km), uma novidade realizada pela primeira vez nesta edição.
O relógio marcava poucos minutos depois das nove da manhã quando soaram os sons de partida. Nesta altura partiram da Avenida do Douro, no Peso da Régua, cerca de 2000 ciclistas do Granfondo e do Mediofondo, preparados para conhecer em duas rodas a zona denominada como Património Mundial. A prova passou por vários concelhos da região, entre eles São João da Pesqueira, Carrazeda de Ansiães, Alijó, Sabrosa, Pinhão, Tabuaço, Armamar e Lamego.
Cerca de trinta minutos após a partida das provas principais já estavam a postos os participantes da Granfondo Gourmet. Na linha da frente da partida estava um atleta pouco comum, o Rodrigo Vilas Boas, o ciclista mais novo entre os 109 participantes desta iniciativa.
Para além da grande afluência de participantes, nem o tempo chuvoso fez com que diminuíssem o número de pessoas nas ruas a assistir às provas. Perto da hora de chegada dos primeiros classificados da prova MedioFondo, eram centenas as pessoas que se encontravam no recinto na expetativa de receberem o primeiro atleta a cortar a meta.
A vitória foi disputada até ao último instante entre Jorge Salgado e Patrick Videira, tendo sido o primeiro que acabou por se consagrar vencedor da prova Mediofondo. O último quilómetro da prova ficou marcado por um sprint “delicioso”, tendo sido assim que o comentador do evento, classificou este momento, acrescentando que já “não havia memória de um sprint assim”.
Três horas, 27 minutos e 47 segundos, foi esta a fórmula da vitória da prova Mediofondo para Jorge Salgado, que ficou com apenas um segundo de diferença para o segundo classificado, Patrick Videira.
“Foi até ao risco”, confessou o ciclista na chegada, ao mesmo tempo que falava das dificuldades que sentiu ao longo da prova, revelando que houve uma altura em que o segundo classificado chegou a ter dois minutos e 20 segundos de vantagem.
Depois de ter já vencido duas vezes o Mediofondo no Gerês, o atleta considerou esta edição realizada no Douro “mais surpreendente” e com uma “paisagem fabulosa”. Acrescentou ainda que comparativamente à prova realizada no Gerês, as subidas são mais “duras e ingrimes” no Douro. Em relação às dificuldades sentidas, Jorge Salgado apontou ainda as condições meteorológicas, já que a chuva tornava o piso escorregadio.
Passavam poucos minutos das 14 horas, quando se conheceu o grande vencedor da prova Granfondo. A expetativa era enorme, a multidão cresceu e todos estavam curiosos para saber quem levaria o título para casa.
Carlos Gomes acabou por cortar a meta cinco horas,18 minutos e 11 segundos depois do inicio da prova. O segundo lugar ficou para João Moreira.
Satisfeito com o resultado, Carlos Gomes, confessa que “acima de tudo foi uma grande vitória, bastante difícil”, o atleta considerou o facto de estar a chover um entrave no percurso, visto que o início da corrida “foi duro em termos climatéricos, muita chuva, bastante frio, mas depois a partir da segunda subida a chuva desapareceu”.
O ciclista explicou que teve “um pouco de medo devido às descidas perigosas”, o que o levou a sair duas vezes da estrada. Apesar de ter ganho, Carlos Gomes confessou que temeu não conseguir a vitória, “encostado ao rio, vento de frente, sozinho, sofri bastante, tentei gerir ao máximo, consegui e acho que estou de parabéns”.
Carlos Gomes classificou a prova no Douro com dez estrelas, salientando que apesar de já ter participado uma vez no Granfondo, “este ultrapassa qualquer um”, acrescentando que sempre que puder voltará à região.
Com 41 segundos de diferença, João Moreira ficou em segundo na classificação geral, tendo no entanto atingido o primeiro lugar no seu escalão. Mostrou-se satisfeito com o segundo lugar, tendo mais experiência no BTT, contou que está “a gostar cada vez mais dos Granfondos”.
Vítor Gamito, treinador de João Moreira e que também participou na prova, admite que esperava o primeiro lugar para o atleta, mas considera o segundo lugar “bastante bom”. Para o ciclista que já venceu a Volta a Portugal no ano de 2000, João Moreira é “um excelente ciclista e como costumo dizer é preciso nascer com vocação e genética e ele nasceu com qualidades”.
Em relação à sua prestação, Vítor Gamito confessa que só quando chegou é que percebeu “a dureza da prova”, acrescentando ainda que “não estava totalmente preparado”. No entanto destaca “as paisagens espetaculares” da região que é Património Mundial. Depois de felicitar a organização, o ciclista mostrou ainda estar otimista em relação ao número de participantes do próximo ano, dizendo que podem vir a duplicar.
João Moreira classificou as sensações sentidas no decorrer do percurso com duas palavras: “sofrimento e adrenalina”, acrescentando ainda que espera “estar presente na próxima edição”.
Manuel Zeferino, organizador do evento, fez um balanço bastante positivo das provas, tendo declarado que “superou todas as expectativas”, também ele está otimista em relação à possibilidade de o número de participantes aumentar no próximo ano, “a vontade com que as pessoas vieram apesar do tempo é um fator importante que mostra que temos todas as razões para multiplicar os participantes”, afirmou.
Degustar o Douro em duas rodas
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Para além de ser a primeira edição do Douro Granfondo, a organização do evento juntou ainda às provas principais um pequeno trajeto de 15 quilómetros, com o objetivo de os participantes provarem as iguarias da região aliadas ao ciclismo.
Teresa Vilas Boas, veio de Évora para participar nesta prova com os dois filhos e frisou a importância de a organização ter feito estas provas para que também as famílias pudessem participar, “penso que foi um momento único e que deviam repetir”, afirmou.
A ciclista também se dedica à organização de passeios de bicicleta destinados ao turismo no Alentejo, tendo já pensado varias vezes em organizar um percurso no Douro considerou o trajeto “fácil, bonito e interessante para trazer os miúdos”.
Rodrigo Vilas Boas, o mais novo participante da prova e também filho de Teresa Vilas Boas, confessou ao VivaDouro que gostou de participar na prova e que “ganhou duas vezes”, tendo ficado empatado uma vez com o irmão mais velho.
Miguel Vilas Boas aproveitou ainda para deixar uma proposta à organização, para a realização de um PequenoFondo com 50 quilómetros. Opinião partilhada também por Maria Monteiro, outra participante da prova Gourmet.
A jovem residente no Porto, foi acompanhar os colegas que participaram na prova principal tendo aproveitado “também para trazer a bicicleta”, contou. Maria Monteiro considera o percurso “muito bom e dá para conhecer um pouco do que é o Douro”. Deixando ainda a promessa que se no próximo ano houver a prova PequenoFondo irá participar.
De acordo com Manuel Zeferino a prova Douro Granfondo Gourmet é para manter exclusivamente no Douro, sendo esta “uma região de iguarias muito apetecíveis e de vinhos fantásticos”.