Editorial

abril 2025

Estimados Leitores,

As listas de candidatos a deputados foram apresentadas e, mais uma vez, repete-se o padrão: uma presença esmagadora de advogados entre os nomes escolhidos, que é independente do partido ou da ideologia. É verdade que o fenómeno é muito mais forte no Porto ou em Lisboa do que nos distritos que elegem poucos deputados, como o de Viseu ou de Vila Real.

Este é um fenómeno antigo, mas que merece hoje uma reflexão séria. Será que em Portugal só os juristas, em particular os advogados, têm perfil para legislar?

Claro que o conhecimento jurídico é importante num Parlamento. Mas a missão de legislar, fiscalizar o Governo e representar os cidadãos exige diversidade de perspetivas, experiências e competências.

Um país que vive de múltiplas realidades — na saúde, na ciência, na engenharia, na agricultura, na educação, na cultura ou na economia — não pode ter um Parlamento onde quase todos falam com o mesmo sotaque profissional.

Quando olhamos para as listas, o desequilíbrio é gritante. Onde estão os cientistas? Os engenheiros? Os médicos? Os professores? Os gestores de projeto, os empreendedores, os técnicos, os agricultores? Onde estão os representantes das profissões que conhecem por dentro os desafios de quem constrói, produz, investiga e forma?

A política torna-se pobre quando se fecha em torno de si própria. E é exatamente isso que acontece quando os partidos optam por nomes previsíveis, muitas vezes oriundos de carreiras jurídicas que já se confundem com as estruturas do aparelho partidário.

Em vez de pluralismo, temos homogeneidade. Em vez de representação, temos repetição. Portugal precisa de um Parlamento mais representativo, mais plural, mais ligado ao terreno. Um Parlamento com lugar para quem conhece a realidade para além dos tribunais e das leis — para quem gere, investiga, ensina, cura, constrói, cria.

A democracia vive de escolhas. Mas que escolha é possível quando, em tempo de eleições, olhamos para as listas de candidatos a deputados, especialmente as dos grandes círculos eleitorais, e encontramos nelas mais do mesmo — nomes desconhecidos, currículos frágeis e, demasiadas vezes, figuras escolhidas não pelo mérito ou pela preparação, mas pela proximidade ao aparelho partidário?

A qualidade da representação política não é um detalhe secundário. É o coração do nosso sistema democrático.

E o que vemos hoje, em muitas listas que se apresentam às legislativas, é uma preocupante banalização do mandato parlamentar. Pessoas sem experiência relevante, sem conhecimento aprofundado dos temas que vão discutir, e, pior ainda, sem ligação real aos eleitores que supostamente irão representar.

Os partidos continuam a tratar as listas como uma extensão das suas lutas internas, premiando fidelidades em vez de competências. O Parlamento transforma-se assim num palco de obediência, onde a disciplina partidária vale mais do que o pensamento crítico ou a responsabilidade perante o país.

Não admira que o cidadão comum se sinta desligado da política. Que confiança podemos ter num sistema que não exige dos seus representantes o mínimo de excelência, visão e sentido de serviço público?

Está na hora de mudar. É preciso repensar a forma como escolhemos os nossos deputados — abrir espaço à sociedade civil, valorizar o percurso profissional, académico e cívico dos candidatos, exigir transparência no processo de seleção e, sobretudo, devolver ao Parlamento a dignidade que lhe é devida.

A política não pode ser um refúgio para carreiristas. Tem de ser uma vocação para quem quer servir. O país merece representantes à altura dos desafios que enfrenta.

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